SIMPÓSIOS TEMÁTICOS

COORDENADORES:

Sebastião Alves Teixeira Lopes (UFPI)
Eliana Pereira de Carvalho (UESPI)

RESUMO: Desde a publicação de Fabulation and metafiction (1979) por Robert Scholes, o debate acerca das metaficções entra no cenário da Teoria e Crítica Literárias ocidentais. Metaficção pode ser compreendida como uma espécie de narrativa dupla, que traz em si um comentário sobre a própria narrativa e/ou sobre sua identidade linguística (HUTCHEON, 1984). Trata-se de uma escrita ficcional que foca no status da própria escrita como um artefato de arte, para assim questionar a relação entre ficção e realidade (WAUGH, 1984). A reescrita confundem-se com a própria história da produção literária. Trata-se de uma prática complexa, que envolve diferentes diálogos com textos canônicos da literatura ocidental, levando mesmo a revisões por diferentes perspectivas desses textos precedentes. Reescrita é uma resposta e/ou reivindicação, uma resposta a textos canônicos (BUKSDORF, 2014), que atualiza e modifica as possibilidades de interpretação de textos canônicos. Amorim (2013) aponta que o debate teórico e crítico acerca das traduções intersemióticas inicia paralelamente ao surgimento do cinema no século XIX. Narrativas literárias passam, então, a povoar a grande tela, contando inclusive com a categoria de roteiro adaptado na premiação do Oscar desde 1929. A tradução intersemiótica, portanto, tem a ver com a transposição de narrativas literárias para diferentes linguagens, tais como cinema, música, pintura, dança, quadrinhos etc. O presente Simpósio tem por objetivo fomentar o debate acadêmico sobre reescritas literárias e/ou traduções intersemióticas que lidem com a noção de metaficção. Buscamos assim ensaios que debatam teoricamente essa questão das reescritas literárias e/ou traduções intersemióticas em relação à noção de metaficção. Encorajamos também a inscrição de ensaios críticos que tenham como corpus de investigação reescritas literárias, focando na relação desses textos com o debate acerca das metaficções. Da mesma forma, buscamos ainda ensaios críticos que ponham em diálogo traduções intersemióticas de narrativas literárias com a noção de metaficção.

PALAVRAS-CHAVE: Metaficção. Reescrita Literária. Tradução Intersemiótica

COORDENADORES:

Osmando Jesus Brasileiro (Secretaria de Estado da Educação do Governo do Estado do Amapá – SEED-GEA e Universidade do Estado Amapá – UEAP)
Luiz Guilherme dos Santos Junior (Universidade Federal do Pará – UFPA)

RESUMO: A metaficção é um estilo de escrita que envolve a criatividade, polifonia e a exposição de forma criativa e fugindo às regras dos romances tradicionais, cria e apresenta ao leitor, mundos ficcionais envolvendo a ficção e a história, em muitos casos, em que os autores são exemplos verdadeiros de criadores de mundos ficcionais. Com o advento da Semana de Arte Moderna de 1922, e os avanços literários desenvolvidos a partir de então, na década de 1940 já começa a surgir autores com essa capacidade de inovar no processo de escrita, como Jorge Amado, Graciliano Ramos, Dalcídio Jurandir e outros, então, no início da década de 1980, estudiosos da literatura tentam criar mecanismos comparativos para classificar as produções pós-modernas. Contudo, ainda que haja um consenso de que a metaficção é constituída por textos que se debruçam criticamente sobre si mesmos, é possível encontrar tendências metaficcionais. Levando em consideração essa liberdade criativa, podemos entender que a soberania do autor é questionada, afinal, muitas vezes há um personagem escritor, como acontece com Floriano em O tempo e vento, de Erico Verissimo, o qual possui autonomia dentro do universo do livro e o leitor também exerce função de cocriador na construção de um mundo e uma história possíveis, haja vista que o leitor também é inserido na obra por meio do processo de interpretação e dominação das personagens e suas características. Portanto, o processo de leitura pós-moderna solicita uma imaginação ativa e criativa por parte do leitor, uma vez que este agora pode se tornar inclusive um personagem na trama. A metaficção na América Latina tem um papel importante na literatura sul-americana, são autores que foram lidos por outros continentes e deram exemplo de formas de produção literária de alta criatividade. A exemplo temos Nélida Piñon, Helena Parente Cunha, Alejo Carpentier, Jorge Luiz Borges, Gabriel García Márquez, Erico Verissimo, João Ubaldo Ribeiro, Dalcídio Jurandir, João Guimarães Rosa e tantos outros que encantaram e continuam a encantar o mundo da literatura com suas ficções literárias; nesse tipo de obra, o autor deixa rastros que levam o leitor a conhecer a estratégia da criação literária. Assim, essas obras metaficcionais possuem, como características, a multiplicidade do ponto de vista, expressando a polifonia trazida na obra, como se observa em obras como Viva o povo brasileiro, do escritor João Ubaldo Ribeiro, e como em O reino deste mundo, de Alejo Carpentier, O tempo e o vento, de Erico Verissimo e tantas outras, em alguns casos estão presentes até a contradição e a incoerência, a indissociação entre realidade e ficção, a transgressão da linearidade narrativa e o convite para que o leitor faça uma interpretação crítica e reflexiva. Dessa forma, o presente simpósio tem como objetivo principal, acolher trabalhos de estudiosos que se debruçam sobre obras de autores da literatura de metaficção brasileira, preferencialmente. A partir de obras publicadas de 1940 até a contemporaneidade, de forma a expor seus trabalhos criticamente e/ou apenas para a fruição do prazer da leitura. Os autores de suporte teórico podem ser os mais diversos que sejam capazes de ajudar na objetivação de análises e estudos a respeito do que o participante do simpósio pretende expor.

PALAVRAS-CHAVE: Metaficção brasileira; Polifonia; Literatura contemporânea

COORDENADORES:

Paulo César Thomaz (Universidade de Brasília)
Andressa Estrela Lima (Universidade de Brasília)

RESUMO: O seguinte simpósio tem como objetivo centrar-se nas produções literárias latino-americanas que abordam como temática as dialógicas entre literatura e história, com o intuito de realizar um espaço democrático que seja capaz de reunir vários estudiosos do literário sob perspectiva interdisciplinar, em especial acerca das confabulações entre literatura e ditadura, em suas múltiplas vertentes teóricas. Com base nesse entendimento, objetivamos contemplar autores e obras que abordam pontos de vista diversos, com primazia aos que se situam ou situam-se à margem e que, por sua estética, afloram no cenário acadêmico recente. Também, visando propiciar debates acerca das representações ficcionais produzidas nas primeiras décadas do século XXI sobre a ditadura militar no Brasil, com as consequências sobre o presente. Neste ínterim, partimos do pressuposto de que a literatura propicia perspectivas de leitura que negociam sentidos para a temática ditatorial, figurando e reformulando a matéria histórica dentro da conjuntura romanesca, o que permite mediarmos acerca desse conjunto de narrativas literárias recentes que tematizam diferentes aspectos da ditadura e da violência no país, não como uma forma diagnóstica do horror pelo horror, mas sim como possibilidade de resistência, dentro dessas configurações, visto que as injustiças de ontem se fazem no hoje e a reparação com o passado ditatorial não foi levada a cabo, como assinalam os pesquisadores Roberto Vecchi e Regina Dalcastagnè, pois esta época que vivemos é “um tempo em que uma barbárie antiga mostrou seu rosto dramaticamente moderno e capaz de impor o regime do horror.” A partir dessas memórias figuradas dos sobreviventes de guerras e ditaduras, temos outra dimensão do que foram esses fatos. A ficção contribui para essa cobrança dos sujeitos, pois constantemente são elaboradas produções que exploram por meio dos artifícios do discurso literário o lado subjetivo de quem vivenciou diretamente ou indiretamente o impacto ocasionado por esses eventos. Quando esse passado não é devidamente concebido na tentativa de amenizar e esclarecer danos causados no social em nome da permanência do poder vigente, ele insiste em ressurgir, ou melhor, “o passado se faz presente”, dado que segundo Beatriz Sarlo, “É possível não falar do passado. Uma família, um Estado, um governo podem sustentar a proibição; mas só de modo aproximativo ou figurado ele é eliminado, a não ser que se eliminem todos os sujeitos que o carregam”. Por essa ótica, a literatura implica esse lugar de fala a partir da reivindicação das representações. Portanto, as discussões que buscamos a partir daqui englobam também a violência e suas relações diversas com a sociedade, como sua importância para a manutenção dos governos antigos e atuais, sua ligação com os discursos religiosos, institucionais, históricos e simbólicos nos fazem entender o porquê essas questões se tornam tão atuais, como explicita a filósofa Jeanne Marie Gagnebin: “O silêncio sobre os mortos e torturados do passado, da ditadura, acostuma a silenciar sobre os mortos e os torturados de hoje.”. Por isso, um dos objetivos deste simpósio é mostrarmos a relevância da recorrência desta temática nas obras literárias recentes, visto que um dos intentos possíveis é o propósito de resgatar e romper com a desmemória na atualidade, implementando assim a resistência.

PALAVRAS-CHAVE: ditadura militar, violência, resistência

COORDENADORES:

Gilmei Francisco Fleck (Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste/Cascavel-PR))
Jorge Antonio Berndt (Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste/Cascavel-PR))
Cristian Javier Lopez (Universidade de Pernambuco (UPE- Petrolina/PE))

RESUMO: Embora a metaficcionalidade esteja presente nas produções literárias desde o nascimento do romance (Candido, 2000), o seu manuseio, em um sentido mais dominante, é relativamente recente. Conforme demonstram as investigações de Hutcheon (1980; 1985; 1988), que deslindou o seu funcionamento nas escrituras integrantes daquilo que ela denomina de “poética do pós-modernismo”, a metaficção tem sido manuseada na escritura hodierna de autores americanos e europeus em conjunto com os gêneros híbridos de história e ficção. As suas análises demonstram como a autoconsciência do relato é instrumentalizada nessa esfera contemporânea da produção literária com o objetivo de problematizar, epistemologicamente e ontologicamente, a história, a ficção e as fronteiras rigidamente estabelecidas, na Modernidade, entre ambas. Pulgarín (1995), Menton (1993), Fernández Prieto (2003) e uma diversidade de outros autores contribuíram a essa discussão no sentido de trazer à baila o fato de esses relatos estarem acompanhados de recursos bakhtinianos (1997; 2014), por exemplo, a carnavalização das personalidades exaltadas pelas tendências hegemônicas da historiografia romântica laudatória, bem como a paródia dos registros em um movimento crítico, o dialogismo, a polifonia, a heteroglossia e a ironia, além disso destaca-se o uso da intertextualidade (Kristevá, 1974; Genette, 1979) como pressuposto para a emergência da própria autorreferencialidade no caso dos gêneros híbridos de história e ficção. Nesse campo, uma das problemáticas reside no fato de essas investigações terem, geralmente, confundido o uso de recurso de metaficcionalidade – enquanto item dominante e subordinado – com relação aos recursos escriturais bakhtinianos (1997; 2014). Isso se torna problemático no momento em que se busca definir, por exemplo, o que, de fato, distingue a modalidade da metaficção historiográfica de outras escritas híbridas nas quais, também, identifica-se o emprego esparso – ou mesmo equilibrado – das técnicas escriturais bakhtinianas em relação aos recursos da metaficcionalidade. Com base nas asserções de tais autores, que abordaram, diretamente ou paralelamente, a temática das confluências das formas históricas e (meta)ficcionais, Albuquerque e Fleck (2015; 2017) propuseram uma solução possível para a complicação categorial existente. Ao partirem das configurações formais, ideológicas e intencionais/motivacionais da narrativa das obras, os autores redesenharam, com um enfoque prevalecente sobre o gênero romanesco, as concepções de novo romance histórico latino-americano (Menton, 1993), metaficção historiográfica (Hutcheon, 1988) e metaficção historiográfica plena (Albuquerque; Fleck, 2015), tendo como base para isso a intensidade e a recorrência do uso dos recursos metaficcionais nessas escritas. Levando em conta a pluralidade de leituras da estratégia metaficcional e de interseções possíveis, convidamos, então, os expositores a apresentarem leituras de obras híbridas que estejam demarcadas por esses níveis diferenciados de utilização de recursos metaficcionais nas tessituras escriturais. Dando destaque aos trabalhos produzidos no contexto americano, o simpósio destina-se, assim, a discussões sobre as modalidades do novo romance histórico metaficcional, da metaficção historiográfica e da metaficção historiográfica plena (Albuquerque; Fleck, 2015; 2017), bem como nas narrativas híbridas de história e ficção metaficcionais lato sensu, como se verifica nas literaturas infantis e juvenis brasileiras (Santos, 2023), no romance de testemunho (Figueredo, 2017; 2020) ou de memória (Halbwachs, 2006), que podem se utilizar do dispositivo em questão para atualizar narrativas coloniais (Quijano, 2005) e conflitivas – como as ditaduras e outros processos antidemocráticos – oficializadas pela história tradicional romântica ou positivista e agregar visões outras dos acontecimentos articulados no âmbito da memória individual e coletiva.

PALAVRAS-CHAVE: Romance Histórico. Literaturas Infantis e Juvenis. Metaficção Historiográfica.

COORDENADORES:

Algemira de Macêdo Mendes (UESPI/UEMA)
Abílio Neiva Monteiro (UESPI/UERN)

RESUMO: Discutir sobre gênero significa tecer caminhos profundos, singulares e extremamente necessários, visando adentrar ao mais íntimo conhecimento sobre a representação do indivíduo, questionando e propondo desconstruções que interferem diretamente nas relações sociais e suas ligações com o ser. Destarte, os conceitos que existem sobre gênero, sexualidade e resistência possuem um gigantesco espaço de sentidos e significados que se entrelaçam com o arcabouço literário. Nesse sentido, o referido simpósio propõe expor discussões que mergulham nas engrenagens conceituais e representativas do gênero, sexualidade e resistência. Com isso, a proposta se debruça a expor análises acerca das referidas temáticas nas obras literárias. Assim, alguns autores, tais como Georges Bataille, Michael Foucault, Giddens, Octavio Paz, Judith Butler, Simone de Beauvoir, Antonio Candido, Walter Benjamin, Glissant, Regina Dalcastagnè, Alfredo Bosi, entre outros, servem como fonte teórica para elucidar alguns questionamentos que surgem nos campos que são foco da pesquisa. Destarte, os estudos de gênero, sexualidade e resistência atribuíram oportunidades para uma abertura maior das discussões no campo acadêmico para se tratar de temáticas sobre as produções latino-americanas necessárias, por vezes, consideradas subversivas, transgressoras e até mesmo marginais. Para tanto, pesquisar sobre a Literatura Latino-Americana significa adentrar em vários mundos ficcionais que levam ao mais precioso conhecimento sobre as diversas construções e desconstruções do ser que interferem diretamente nas relações da sociedade. Posto isso, os conceitos que existem sobre resistência, gênero e sexualidade, entre outros, possuem um vasto espaço de sentidos e significados que se entrelaçam com o eixo em questão, viabilizando revisitações nas criações literárias, sendo um ponto de início obrigatório para aqueles que se dispõem a compreender as múltiplas possibilidades poéticas e políticas dos diversos olhares acerca da Literatura em questão. As expressões literárias evocam e reclamam para si o grito de liberdade que por muito tempo foi abafado pela construção dos vários discursos patriarcais que dominaram a história durante décadas recentes. Então, o caminho que a obra literária se debruça é o de resistir e propiciar um desmonte as regras e normas que isolam, silenciam e subalternam o sujeito. As obras latino-americanas apresentam situações que evidencia questões, fatos, sujeitos e acontecimentos que são “apagados” dentro do ciclo social e, assim, colabora positivamente para as suas reflexões, e que se torna importante e singular o conhecimento e destaque de vozes, provenientes de inúmeros espaços da sociedade, na esfera literária. Por fim, a resistência, a sexualidade e consequentemente gênero pode ser destacado como elo de uma negação daquilo que é imposto, não se configurando meramente sob o código social, vai além dos conceitos ultrapassados que tentam engolir o sujeito, atravessa-o, expondo e denunciando o cotidiano, se tornando elementos basilares de uma reconstrução identitária. Para tanto, todos esses elementos são utilizados pela sociedade que assimila suas imagens, seus comportamentos e as suas presunçosas normas como padrão, considerando as escritas que trazem as temáticas citadas como desvios que precisam ser corrigidos, calados e marginalizados.

PALAVRAS-CHAVE: Gênero; Sexualidade; Resistência

COORDENADORES:

Harley Farias Dolzane (NIK/UFPA, LAESP/UEPA)
Tais Salbé Carvalho (NIK/UFPA, LAESP/UEPA)

RESUMO: O simpósio temático concentra-se na análise e exploração da metaficção em obras da Literatura latino-americanas de expressão amazônica. Incluem-se nessa designação, obras que trazem traços de identificação da Amazônia, tomando-a, em algum sentido, como origem e causa da produção literária, fundando um imaginário pautado em sua paisagem e identidade, transitando entre perspectivas locais e universais de interpretar a realidade. A metaficção é um recurso em que o próprio texto ficcional reflexivamente aborda sua condição de ficção, explorando a relação entre autor, narrativa e leitor, bem como os seus processos de produção e de recepção. Assim, por um lado, o próprio texto literário coloca em evidência o caráter de artefato da obra literária, fazendo com que a ilusão de realidade da obra ficcional seja rompida; por outro, as narrativas assim construídas são invadidas pela crítica e/ou pela teoria literária, tornando-se, assim, uma forma híbrida, em que a ficção, a crítica e a teoria partilham o mesmo espaço literário (Farias, 2012). A obra literária, neste âmbito, evidencia seu caráter de obra de pensamento poético-originário (Castro, 1982). Para Cecim (1983), “Só a fábula insurrecta cravada na vida resgatará estética e historicamente a Amazônia dessa miragem: o padrão colonizador imposto a ela (... ) A História, a minha história, só terá realidade quando eu me apossar dela pelo meu imaginário de homem e região (...) A minha História amazônica só terá realidade quando o meu imaginário amazônico se apossar dela. (...) Nossa História só terá realidade quando o nosso imaginário a refizer, a nosso favor.” Neste sentido, propomos um simpósio em que se procura examinar como as obras elaboram questões metaficcionais de modo a desafiar convenções narrativas, questionando a natureza da ficção e refletindo sobre temas culturais e sociais, refazendo próprio imaginário em uma instância de realização concreta da identidade. Serão bem-vindos trabalhos que abordem a metaficção em obras latino-americanas de expressão amazônica, nos tópicos relacionados a seguir: Desafios à Realidade e Ficção: Exploração de como a metaficção é usada para questionar a interpretação da realidade como dimensão contraposta à experiência ficcional, desafiando a noção tradicional de verossimilhança e envolvendo os leitores em uma reflexão sobre a natureza da narrativa. Identidade Cultural e Desconstrução de Convenções Narrativas: Análise de como a metaficção é empregada para refletir e questionar a identidade cultural amazônica dentro do contexto latino-americano, destacando sua diversidade e complexidade, bem como de que maneira a metaficção contribui para desconstruir e subverter as convenções literárias, romper com estereótipos e exotismos abrindo novas perspectivas ao imaginário para além da dicotomia local/universal. Autoconsciência Literária: Investigação de como os escritores exercitam a metaficção em suas diferentes técnicas e estratégias para manifestar suas próprias reflexões sobre a criação literária, propiciando novas sendas para meditação sobre a escrita, a função do autor e a relação entre a obra e seu público. O simpósio pretende proporcionar uma plataforma para a troca de ideias e conhecimentos, a fim de aprofundar a compreensão da metaficção no recorte acima proposto. Ao analisar como as obras entretecem a autoconsciência das questões literárias e dos fatores que interagem na sua própria criação, desafiando as fronteiras da ficção, pretendemos contribuir para a expansão dos estudos sobre a metaficção em obras literárias de expressão amazônica e sua importância para a literatura latino-americana e além.

PALAVRAS-CHAVE: Metaficção. Literatura de expressão amazônica. Narrativa.

COORDENADORES:

Cecil Jeanine Albert Zinani (UCS)
Guilherme Barp (UFRGS)

RESUMO: Na América Latina, o Brasil se institui como o país de maior extensão territorial. Nesse sentido, é compreensível que, desde o século XVIII, a ficção feminina tenha florescido com expressividade no âmbito nacional, após a conquista do letramento por parte de uma parcela privilegiada da população. Iniciando com Teresa Margarida da Silva Orta e perpassando por Ana Eurídice Eufrosina de Barandas, Nísia Floresta, Maria Firmina dos Reis, Júlia Lopes de Almeida, Rachel de Queiroz, Clarice Lispector, Lygia Fagundes Telles e Conceição Evaristo, para nomear somente algumas, a literatura de mulheres, analisada por meio de uma perspectiva histórica e de gênero, constitui-se numa tradição, consolidada na publicação de romances, contos, novelas e crônicas de autoria de escritoras. Durante um expressivo período, a prosa escrita por mulheres recebeu pouca atenção da crítica literária, uma vez que era vista com condescendência, associada à menoridade com que o gênero feminino era percebido pela sociedade, caindo em um verdadeiro esquecimento, ainda que essas narrativas tivessem, em suas épocas, granjeado muitos leitores e tido muitas reedições, como o livro Contos infantis, escrito por Júlia Lopes de Almeida e sua irmã Adelina Lopes Vieira, publicado, primeiramente, em Portugal, em 1886, e depois, em 1891, no Brasil, atingindo a surpreendente marca de 27 reedições. Apesar de compelidas à invisibilidade, as escritoras resistiram, e, superando as adversidades do preconceito de gênero, conseguiram veicular suas produções tanto em periódicos, que foram responsáveis pela divulgação e popularização de seus diversos escritos, quanto na forma de livros impressos, ampliando o volume de material publicado no país. A partir dos avanços da crítica feminista e da ginocrítica, no final do século XX, há um constante (re)exame de um considerável corpus de textos escritos por mulheres de todos os períodos. Dessa maneira, os rumos dessa metodologia de pesquisa têm contribuído para reduzir o “memoricídio”, termo popularizado pela pesquisadora Constância Lima Duarte, que significa o apagamento das contribuições à cultura e à história, que foi sofrido pelas mulheres. Recentemente, enfoques interseccionais têm proporcionado novas leituras acerca da ficção feminina, valorizando experiências moldadas por diferentes raças, classes sociais, orientações sexuais, dentre outros fatores, em interface com a categoria “gênero”. Em consonância com as considerações acima, este simpósio acolhe investigações focadas tanto no resgate quanto nas leituras críticas de narrativas literárias escritas por mulheres brasileiras, dos primórdios à contemporaneidade, em qualquer modalidade ficcional, por exemplo, do insólito, do drama, da aventura, da metaficcionalidade, executadas por meio de variadas perspectivas e abordagens, em conformidade com a História da Literatura, a Teoria da Literatura, a Literatura Comparada e/ou o Ensino de Literatura, resultados de pesquisas, de revisão bibliográfica ou de outros métodos de estudo.

PALAVRAS-CHAVE: narrativas literárias; escritoras brasileiras; gênero

COORDENADORES:

Natália Regina Serpa (IFMA)
Denis Moura de Quadros (UNILA)

RESUMO: Este simpósio versa sobre as possibilidades de imaginarmos um futuro utópico para o povo negro. O afrofuturismo enquanto agência estática negra é também uma ferramenta poderosa para libertar a imaginação que foi sequestrada pelo processo colonial, uma ferramenta que regata a imaginação das amarras ideológicas do presente, construindo um ideal administrativo emancipatório. O filósofo camaronês Achille Mbembe, certa vez, declarou em uma de suas entrevistas que: "O mundo de amanhã será a África", sua fala refere-se ao fato de que em menos de meio século uma em cada três pessoas no planeta será africana ou descendente de uma em diáspora. Ocorre que a humanidade parece não estar preparada para um futuro negro, por isso, torna-se necessário pensar caminhos para que essa população negra historicamente invisibilizada seja encarada como fundamental para a construção de um mundo melhor. O futuro que queremos não nascerá pelas mãos brancas que colonizaram o mundo, e, talvez ele se assemelhe a um pássaro, muito conhecido em algumas culturas africanas. Voar para frente olhando para trás. O tempo na eni (esteira) de pensamento afrodiaspóricos é espiralar e, por isso a Sankofa encontra ecos em um provérbio vindo do que hoje conhecemos por Gana, que diz: "não é errado voltar para buscar aquilo que esquecemos". Comumente também observamos a utilização dessa imagem para representar um movimento que justamente nasce para abrir espaços largos para o negro em diáspora fantasiar imagens de futuro. O afrofuturismo, assim como o pássaro, apesar da grande ligação com o que ainda está por vir, sempre olha para trás. Buscar os saberes ancestrais enquanto avançamos; vive em uma constante conversa entre o que é a realidade e o que é ficção. Apesar das obras mais conhecidas serem no campo do cinema, música e literatura, o diálogo com a ciência e a tecnologia também se faz de forma direta. Enquanto pessoas negras estão escrevendo obras ficcionais há cientistas, professores, estudiosos trabalhando para provar na prática e os conhecimentos que o movimento prega. Ficção e realidade andam juntas, completam-se e buscam, também juntas, construir o movimento que tem como principal trunfo apresentar novas narrativas que contam histórias do povo negro para além das tragédias, da dor e do sofrimento, buscando no passado pré-colonial respostas para perguntas que podem construir um outro tipo de presente e de futuro. Não só é possível como se faz necessário lançar-se ao futuro recuperando elementos do passado que condizem mais com a verdade do que toda ficção transmutada em “História Oficial” contada e transmitida nas escolas brasileiras. Sonhar é primordial e o projeto afrofuturista nos garante esse direito de projetarmos um futuro negro, protagonizado por sujeitos negros que, ao mesmo tempo, resgata e transmuta toda mitologia e cultura africana. Percebemos, então, que o afrofuturismo não é apenas um movimento, mas uma práxis anti-colonial e anti-racista que demanda outros olhares e outras ferramentas que só podem surgir a partir do giro epistemológico. Além disso, tem sua pulsação na afrocentricidade e as cinco características descritas por Asante (2009) em que a retomada da humanidade do africano como sujeito, sua localização psicológica como negro, a retomada e defesa dos elementos africanos, o refinamento léxico e o compromisso com novas narrativas de/sobre África são apenas algumas caraterísticas do afrofuturismo. Assim, queremos pensar em cosmovisões ancestrais possíveis retomando um giro epistemológico afrodiaspóricos. O simpósio receberá trabalhos que analisem obras literárias afrofuturistas, jogos de RPG, videoclipes, filmes, HQs e demais produções artístico-literárias, bem como propostas teóricas que remetam à temática do simpósio para pensarmos no espaço dos negros nas narrativas especulativas.

PALAVRAS-CHAVE: Afrodiáspora; Ancestralidade; Afrofuturismo

COORDENADORES:

Jurema da Silva Araújo (UFPI)
Cristiane Viana da Silva Fronza (UFPI)

RESUMO: No ano de 2020, uma das autoras de maior alcance hoje, J. K. Rowling, foi inconvenientemente irônica ao se referir a um artigo sobre pessoas que menstruam – incluindo-se não apenas aquelas com a fisiologia e a anatomia biológica feminina, mas homens trans. A postura da escritora repercutiu amplamente em seu ciclo e fora dele. Posições como as dela não são raras, ao contrário, estão cada vez mais sendo disseminadas e alavancadas por discursos carregados de preconceito e estereótipos negativos. As obras de autoria feminina e, ainda, suas análises, assentadas na crítica literária feminista e também no encorajamento de precursoras como Mary Wollstonecraft (1759-1797),Virginia Woolf (1882-1941), Mary Hays (1759-1843), Simone de Beauvoir (1908-1986), Maria Firmina dos Reis (1822- 1917) entre outras, se solidificam na medida em que dessacralizam ideologemas construídos como verdades absolutas que insistem no silenciamento das vozes femininas, dessa forma, nas palavras de Rita T. Schmidt (2019, p. 66) “as vozes dessas autoras se fazem ouvir pelas fissuras que desencadeiam”. Nesse sentido, considerando a literatura como espaço simbólico para a manifestação da pluralidade de discursos, propomos este Simpósio Temático para trazer para o debate o protagonismo das mulheres (todas elas) na literatura brasileira, bem como de qualquer outra nacionalidade. Por conseguinte, coletamos propostas que tratem da representação ou da ausência de representação das mulheres em produções literárias em prosa ou poesia, aglutinando também a relação destas com o campo literário (escrita, edição, ilustração, etc.). Portanto, este simpósio abre espaço para o diálogo de temas sobre a escrita de mulheres negras, indígenas, cis, trans, portadoras de deficiência, dentre outras.

PALAVRAS-CHAVE: Mulheres. Literatura. Representação

COORDENADORES:

Raimunda Celestina Mendes da Silva (UESPI)
Lueldo Teixeira Bezerra (Centro Universitário Maurício de Nassau Aliança)

RESUMO: Para Hutcheon (1991), tanto a ficção como a história, no que tange à escrita pós-moderna da História e da Literatura, apresentam-se como discursos que emergem a partir de sistemas significativos, os quais ressignificam o passado. Isso porque nem o sentido e nem a forma estão voltados para os acontecimentos, mas sim para os sistemas que imbricam os acontecimentos em fatos da história. Como produção ficcional da relação da História com a Literatura, tem-se o romance histórico, o qual, segundo Gomes (1996), afasta o seu olhar do tempo presente, voltando-se para o passado, trazendo consigo dessa viagem no tempo mitos e heróis característicos, de modo que esse ajuda o leitor a ter uma visão mais ampla sobre o tempo presente. Nessa relação presente-passado, olhares têm se voltado para estudar o romance histórico a partir das fontes primárias, que por sua vez, têm sido objeto de estudo tanto para a história da literatura como para os estudos culturais. Le Goff (2013) defende que as fontes primárias são documentos produzidos pela sociedade, os quais reverberam culturas e histórias que estampam obras literárias. Essas obras apontam os rastros do passado em suas linhas ficcionais, sendo a partir dos quais que se constroem o discurso historiográfico. Por sua vez, Moreira (2004) provoca os pesquisadores da história da literatura ao afirmar que esses rastros, para a história da literatura, compreendem as fontes documentais, sendo elas os vestígios deixados por historiadores, críticos e escritores. Diante do discutido, interessa a este simpósio pesquisas que versam sobre o romance histórico a partir das fontes primárias que testemunham a história ficcionalizada. Discutir-se-á a relação história-ficção-fontes primárias na produção literária. Assim, pensar-se-á sobre como o romance histórico se porta como fonte para a História, e como as fontes primárias podem ajudar o leitor a compreender o tempo presente a partir desse gênero.

PALAVRAS-CHAVE: romance histórico; fontes primárias; história e ficção

COORDENADORES:

Margareth Torres de Alencar Costa (UESPI/UFPI)
Susana Beatriz Cella (UBA)
Anderson C. Ferreira Brettas (Instituto Federal do Triângulo Mineiro - IFTM)

RESUMO: O objetivo deste simpósio é viabilizar uma reflexão e debate sobre os temas da Literatura, Memória, História e cultura partindo de textos literários e práticas docentes dos pesquisadores em diferentes contextos onde ensinam Literatura e Língua espanhola partindo de uma abordagem dos fundamentos, descrição e discussões de aspectos culturais que envolvem questões de gênero e de memória. Nesse sentido o simpósio abordará as relações entre literatura e memória cultural, visando discutindo a institucionalização canônica dos textos e as articulações entre experiência vivida, ficção e organização social. Examinar as relações entre narrativa e memória individual: a literatura testemunhal, aprofundando, na medida do possível uma reflexão da literatura sob a perspectiva de suas afinidades com os pares: memória/esquecimento e memória individual/memória coletiva;

PALAVRAS-CHAVE: