SIMPÓSIOS TEMÁTICOS

COORDENADORES:

Algemira de Macêdo Mendes (UESPI/UEMA/CNPQ)
Mônica Saldanha Dalcol (bolsista CAPES- Pós- Doc PPGL- UEMA)
Silvana Maria Pantoja dos Santos (UESPI/UEMA/CNPQ)

RESUMO: A consolidação do que chamamos cânone literário é, essencialmente, como aprendemos com Eagleton (2001), um espaço de poder, fazendo com que o “valor litetário” de uma determinada obra seja definido a partir contexto social e político. A partir desse território de poder, sabemos que a produção literária e acadêmica de mulheres sofreu, historicamente, um preterimento no que diz respeito ao cânone masculinista, elitista e brancocêntrico. No entanto, apesar do contexto hegemônico, a máscara do silenciamento, como afirma Grada Kilomba (2019), imposta às mulheres negras, foi e continua sendo superada a partir da produção literária afrodiaspórica e africana, promovendo diversos novos horizontes conceituais para problematizarmos as epistemologias, literaturas e o mundo de modo geral. Deste modo, a partir das tessituras possíveis através das vozes mulheres da literatura afrodiaspórica e africana, a partir do giro decolonial, convidamos os interessados/as/es para partilharem suas pesquisas.

PALAVRAS-CHAVE: vozes mulheres, canône, giro decolonial

COORDENADORES:

Marcos Vinicius Medeiros da Silva (UERN)
Francisco Humberlan Arruda de Oliveira (IFRN)

RESUMO: A obra de arte literária é a representação ou imagem da linguagem, por isso se afirma pela e para a linguagem em contato com o mundo e com os discursos. Nesta perspectiva, a narrativa de ficção torna-se fundamentalmente a representação do sujeito que fala, seja ele autor, personagem ou narrador, e exprime seus pontos de vista, estando sob orientação da multiplicidade discursiva de sua época, de seu meio social e de suas leituras. Nesse processo de linguagem, a escrita de si, com as mais variadas denominações: cartas, memórias, diários, autobiografias, confissões, sempre se constituiu em uma forma de representação do real pela linguagem. Nesse sentido, ao transfigurar para escrita a vida, o homem mistura, muitas vezes, realidade e ficção, colando episódios de sua vivência à fantasia. A expressão autoficção, criada por Serge Doubrovsky em 1977, aponta para consciência de que o autor identificava uma prática de escrita de si que combinava categorias de autobiografia e ficção nas composições de narrativas ficcionais. Essa modalidade de escrita que se inspira em dados empíricos da vida do autor parece ser o disfarce perfeito utilizado por escritores contemporâneos, mesmo que, nesse disfarce, a vida privada pareça ser pública. A verdade é que sempre se percebeu na literatura a presença de elementos biográficos nas obras em todas as épocas, justamente por ser a arte uma forma de expressão da vivência e da experiência de seus artistas, o que levou o escritor haitiano Dany Laferrière a afirmar que “toda narrativa é forçosamente autobiográfica mesmo quando a história parece longe de nossa vida pessoal” (Laferrière, 2013, p. 165). O que se pode observar pelos estudos atuais de literatura é que fica evidente que o conteúdo autobiográfico se tornou matéria a ser explorada em maior escala, o que leva o leitor a imaginar ser, em grande parte, verdadeira a narrativa de ficção a qual está lendo. O que se pode perceber, na ascensão do termo autoficção, é que essa modalidade de escrita de nossos tempos conduz a uma instabilidade de percepção do real, causando um desconforto no leitor a medida em que os limites da projeção de si e da ficção são mais estreitados. Philippe Garparini acredita que o neologismo criado por Doubrovsky é um “texto autobiográfico e literário com muitas características de oralidade, inovação formal, complexidade narrativa, fragmentação, alteridade, disparidade e autocomentário que tendem a problematizar a relação entre escrita e experiência” (Gasparini, 2008, p. 311). Essas questões identificadas no texto auficcional pelo estudioso francês Philippe Gasparini, demonstra o quão complexo e instigante pode ser o estudo da autoficção. Desde de a criação do termo na década de 1970 na França até sua expansão mundial e sua chegada ao Brasil por volta dos anos 2000, o conceito/gênero vem alcançando mais popularidade nos estudos literários, principalmente porque havia e há um espaço reservado a um novo gênero do romance que lida com categorias tão díspares como autobiografia e ficção, mas que se tocam, se convergem, se misturam no processo de escrita artística. Esse simpósio se propõe a discutir de que modo a autoficção pode contribuir para os estudos literários contemporâneos, sobretudo aqueles relacionados as “escritas de si”; e de que maneira o termo/conceito pode ser utilizado para classificar narrativas de ficção.

PALAVRAS-CHAVE: Autoficção. Ficção contemporânea. Escritas de si

COORDENADORES:

Paulo César Thomaz (Universidade de Brasília)
Andressa Estrela Lima (Universidade de Brasília)

RESUMO: O seguinte simpósio tem como objetivo centrar-se nas produções literárias latino-americanas que abordam como temática diálogos entre Literatura e História, com o intuito de realizar um espaço democrático que seja capaz de reunir vários estudiosos do literário sob perspectiva interdisciplinar, em especial acerca das confabulações entre Literatura e ditadura, em suas múltiplas vertentes teóricas. Apesar de se referir a um período histórico verídico, a narração se atém ao caráter ficcional, oportunizando que a experiência transcrita evidencie a cumplicidade entre narrar a possibilidade do factual e criar uma estética em virtude disso: “Quem narra, narra o que viu, o que viveu, o que testemunhou, mas também o que imaginou, o que sonhou, o que desejou. Por isso, NARRAÇÃO e FICÇÃO praticamente nascem juntas.” (LEITE, 1985, p. 7, grifo da autora). Dito isso, a literatura, para nós, é “marcada pelo real” (SELIGMANN-SILVA, 2002, p. 145), como averiguamos no texto Literatura e Trauma, de Marcio Seligmann-silva (2002). O pensador reforça que a linguagem literária nos ajuda a jogar com o simbólico sem abandonar as pontes com a realidade. Essa união permite que o escritor, mesmo que tenha vivenciado os eventos descritos por ele, utilize a linguagem baseada nas referencialidades para construir a conjuntura textual e a criação. De acordo com o exposto, os atos extremos convocam categorias tais como violência, tortura e trauma dentro dos planos narrativos. A ausência, sobressaltada nas estruturas das obras, trazem a oportunidade do retorno dos que se foram, pela inconformidade do vivo que o evoca, por vontade própria ou por obrigação traumática. Os fantasmas se impõem no ambiente. Nesse sentido, objetivamos propiciar debates acerca das representações ficcionais produzidas nas primeiras décadas do século XXI sobre a ditadura militar no Brasil, com as consequências sobre o presente, relacionando com a memória de experiências vividas, majoritariamente representados por escritores de uma segunda geração que exploram a memória familiar, interconectando a subjetividade do sujeito ao político. Diante disso, os procedimentos estéticos desvelam, entre outras questões, a persistência das marcas do autoritarismo nas relações sociais e políticas, a representação brutal da violência, a hipertrofia do poder policial, a dimensão íntima e subjetiva da história, a experiência do exílio, as tensões entre censura e resistência. A partir dessas memórias figuradas dos sobreviventes de guerras e ditaduras, temos outra dimensão do que foram esses fatos. A ficção contribui para essa cobrança dos sujeitos, pois constantemente são elaboradas produções que exploram por meio dos artifícios do discurso literário o lado subjetivo de quem vivenciou diretamente ou indiretamente o impacto ocasionado por esses eventos, como observa Eurídice Figueiredo (2017) no mapeamento que realiza dessas produções. A persistência da memória traumática da Ditadura Militar na produção literária brasileira é um sintoma do interesse renovado pela temática, ao longo de mais de meio século, que se poderia justificar pelas consequências da barbárie na contemporaneidade brasileira. Portanto, o objetivo do simpósio é propiciar a oportunidade de expandir os significados e os sentidos às expressões do trauma, da memória e do âmbito afetivo, sem uma negatividade aterradora e sim produtiva, pois temos que se atentar ao fato de que esse tempo histórico se estabelece pelas relações das personagens e por processos de significação diversos, ou seja, ele não é um período engessado por uma só característica ou padrão interpretativo. Temos de conhecer seus próprios modos de significar para identificarmos um vetor de escape à condenação negativa e petrificada do horror.

PALAVRAS-CHAVE: .

COORDENADORES:

Valdiney Valente Lobato de Castro (UERJ/META)
Alan Victor Flor da Silva (UFPA)

RESUMO: Segundo Robert Darnton (2010), os autores constituem um segmento de um circuito de comunicação associado a muitos outros elementos, como os editores, os tipógrafos, os ilustradores, os leitores, entre outros. Esse circuito demonstra que os escritores não são os únicos envolvidos nos processos de produção e circulação das obras. Muito pelo contrário, são completamente dependentes dos demais agentes do circuito de comunicação e estão à mercê das influências intelectuais, da conjuntura econômica e social e das sanções políticas e legais. Do mesmo modo, Roger Chartier (1999) afirma que os autores também estão constantemente sujeitos a uma série de tensões que delimitam a atividade da escrita, pois quase sempre são obrigados a atender as exigências implícitas ou explícitas impostas pelos editores, pelo suporte material onde se materializam os textos, por uma ou várias comunidades de leitores e, de um modo bem mais geral, por um mercado de circulação das obras. Sendo assim, a compreensão acerca do cenário literário construído na entronização de um escritor ou de uma obra expande-se como um processo de aceitação para além da mera relação entre autor e público: Bourdieu (1996) destaca afinidade do escritor com seus pares como elemento singular no processo de canonização. Nesse sentido, todos esses segmentos do circuito de comunicação interferem diretamente não apenas na atividade de produção literária, como também no estatuto do qual desfruta um escritor na sociedade na qual está inserido. Em razão do papel que esses agentes desempenham, alguns autores e obras desfrutam de um espaço privilegiado no meio artístico-literário, enquanto outros são relegados ao esquecimento. Segundo Marisa Lajolo (2001) e Márcia Abreu (2004), um escritor, para alcançar esse lugar de prestígio, deve passar pelo número máximo de instâncias de legitimação ou consagração, a exemplo das universidades, dos suplementos culturais dos grandes jornais, das revistas especializadas, dos livros didáticos, das histórias literárias, entre outros. Essas instâncias, de modo geral, apresentam a tarefa de julgar e hierarquizar o conjunto de textos que circulam em meio a uma determinada sociedade e, consequentemente, são as responsáveis pelo estatuto social atribuído aos autores, pois têm o poder institucional de declarar escritores e obras como pertencentes ao cânone literário. A (não) canonização implica, além da avaliação da qualidade estética e literária das obras, diversas consequências mais concretas. Os autores canonizados, por exemplo, desfrutam de um espaço muito mais privilegiado no cenário literário, pois são estudados por diversos críticos e especialistas e apresentam uma extensa fortuna crítica, assim como também as obras desses literatos possuem várias e diferentes edições (para todos os gostos e, sobretudo, para todos os bolsos) e, por conseguinte, podem ser lidas por um público leitor muito mais amplo e diversificado. Os não canonizados, em contrapartida, possuem pouco espaço no cenário literário, pois carecem de críticos e especialistas, de referências bibliográficas, de fortuna crítica, de edições para suas obras e, principalmente, de leitores. Desse modo, a proposta deste simpósio temático é congregar trabalhos que procurem traçar aspectos da trajetória de consagração ou de esquecimento de narrativas literárias da América Latina. Para tanto, esses trabalhos devem considerar o papel da crítica literária, das história literárias, das universidades, das editoras, das livrarias, dos jornais, entre tantos outros.

PALAVRAS-CHAVE: narrativas; América Latina; canonização

COORDENADORES:

João Vitor Rodrigues Alencar (IFPA)
Patrícia Anette Schroeder Gonçalves (Doutora em Letras, USP)

RESUMO: No ano em que se completam 60 anos do golpe civil-militar no Brasil, propomos um debate sobre a relação entre a produção artística e as transformações histórico-sociais empreendidas durante a ditadura. Num primeiro momento, salta aos olhos a questão da censura: por um lado, o modo como o Estado estabeleceu uma política de perseguição a determinados artistas e impediu a circulação de suas obras, e, por outro, a maneira como estes resistiram a partir de variadas formas de militância e de elaboração artística. A censura pode ser compreendida num plano mais largo, no entanto, em que se reconheça a gravidade da proibição de qualquer obra tomada isoladamente, mas em que se busque também compreender como essa política de Estado interferiu na própria relação entre autores, obras e público, relação responsável pela formação da literatura e das outras artes como formas de investigar a realidade do país e de se posicionar em relação a seus problemas sociais, como um modo de representar a vida social de maneira complexa e especificada. Desde essa perspectiva histórica, a atuação do golpe e do regime pode ser compreendida como uma reação ao processo de radicalização política que a cultura brasileira incorporou, especialmente entre as décadas de 1930 e 1960 – momentos em que o acúmulo intelectual concentrado nas artes brasileiras permitiu uma radicalidade estética e política pouco habitual. Além da censura propriamente dita, podemos citar uma série de transformações que, durante a ditadura, incidiram na própria estruturação social do país e de sua maneira de produzir arte: como o ataque às alianças entre os intelectuais e as classes baixas, a perseguição aos modos de organização política, o êxodo rural que transformou o país em majoritariamente urbano, o arrocho salarial dos trabalhadores, a concentração dos níveis de riqueza, a tentativa de industrialização do país, a redistribuição geográfica através dos diferentes fluxos migratórios, o encurtamento dos horizontes revolucionários, a implantação de setores de uma indústria cultural no país (especialmente, a fonográfica), as transformações na educação formal etc. É nesse momento que a literatura brasileira, que havia se formado no final do século 19, perde algo de sua centralidade para as artes públicas (como o cinema, o teatro e, especialmente, a canção popular), para as quais alguns de seus principais quadros haviam migrado. Ao fim do regime militar, não só o Brasil já não era mais o mesmo que havia sofrido o golpe, como haviam sido alteradas as próprias formas de produzir arte no país. Nesse sentido, podemos afirmar que o golpe de 1964 alterou radicalmente os vínculos entre a literatura, as artes e a vida social. Convidamos então pesquisadores para que enviem trabalhos sobre a transformação desses vínculos, que analisem e interpretem como todas essas transformações históricas e sociais que remontam ao período militar impactam a literatura e/ou as outras artes (também serão aceitas propostas que versem sobre a relação que as diferentes mídias e linguagens artísticas tiveram no período, como a televisão, a música, o teatro, o cinema, a pintura e a televisão). Serão bem-vindos trabalhos de diferentes abordagens disciplinares e teóricas, desde que abordem algo relacionado ao período. Os trabalhos não precisam se deter apenas no período do regime militar (1964-1985), podendo também lidar com seu legado, através dos modos com que as artes e a sociedade continuamente reelaboram, posteriormente, a memória do período. Assim, serão aceitos trabalhos sobre obras e autores mais recentes, em que é possível discernir, mesmo que de forma sutil, a reverberação das transformações que remontam à ditadura militar. Serão ainda aceitos trabalhos que se detenham sobre o contexto latino-americano, especialmente relacionado com os golpes perpetrados no Cone Sul, desde que seja explicitada alguma relação com o contexto brasileiro ou suas obras.

PALAVRAS-CHAVE: Literatura - Artes - Ditadura civil-militar

COORDENADORES:

Daniel Bonesso Nunes (UFSM)
Enéias Farias Tavares (UFSM)

RESUMO: O Steampunk é um gênero derivado da ficção científica centrado no retrofuturismo cujo mote imaginativo reside numa realidade alternativa em que a energia a vapor não foi suplantada pela elétrica. Nesse contexto, grandes maquinários e autômatos robóticos compartilham narrativas com figuras históricas e sobrenaturais, utilizando a estética e a ambientação características da época vitoriana para, em geral, tratar sobre temas atuais. No Brasil, o gênero tem se consolidado como uma vertente literária rica em representações e críticas sociais, mesclando a estética do século XIX com elementos de ficção científica e fantasia. Dentro da seara nacional, a obra Guanabara Real — dos autores A.Z. Cordenonsi, Enéias Tavares e Nikelen Witer — emerge como um exemplo poderoso de como a literatura pode reimaginar o passado para lançar luz sobre questões e assuntos dos dias atuais. Dividido nos dois romances A Alcova da Morte e O Covil do Demônio, a narrativa apresenta um Rio de Janeiro alternativo nos anos de 1892 e 1893, num enredo de mistério, investigação e ação narrativa. Este trabalho tem como objetivo explorar a maneira como Guanabara Real utiliza a metaficção e a criação de utopias distópicas para subverter narrativas históricas tradicionais, evidenciando as distinções sociais da alta hierarquia e a marginalização da sociedade menos abastada. Baseando-se nas teorias de Linda Hutcheon sobre metaficção e historiografia e de Fredric Jameson sobre utopia e distopia, esta análise examina como a obra não apenas reconstrói um passado alternativo, contudo, também mescla o histórico com o ficcional para levantar discussões relevantes nos dias atuais. A metaficção em Guanabara Real se manifesta através da autorreflexividade da narrativa, onde os próprios protagonistas — Firmino Boaventura, Remy Rudá e Maria Tereza Floresta — são agentes conscientes da complexidade do mundo em que vivem, ao mesmo tempo em que se deparam com as ambiguidades do insólito e da ciência. A obra utiliza elementos como documentos fictícios e referências cruzadas a eventos históricos reais e imaginários para criar uma nova realidade ficcional com base na história documentada. Em paralelo, a obra constrói um Brasil alternativo marcado por utopias distópicas — um mundo onde o progresso tecnológico e o positivismo se entrelaçam com o misticismo e o horror sobrenatural, criando um ambiente onde as promessas de modernidade se desdobram em ameaças à liberdade e à justiça. O engenheiro Firmino Boaventura, com sua fé inabalável no progresso, e o místico Remy Rudá, com sua inclinação para as forças arcanas, representam os extremos de um espectro ideológico que reflete as tensões do Brasil do final do século XIX e que ressoam até hoje. Por meio desta análise, o presente trabalho não busca apenas analisar Guanabara Real como uma obra de entretenimento, mas também como um texto que oferece uma crítica ao nosso tempo e ao modo como a história é compreendida. Ao criar uma utopia distópica no Brasil imperial, seus autores não apenas questionam as promessas não cumpridas do progresso, mas também reimaginam o passado para expor as fragilidades e contradições do presente. Torna-se então fundamental a compreensão do Steampunk Brasileiro como um campo literário que, longe de ser apenas uma reinterpretação estética do passado, é uma forma de intervenção crítica nas narrativas de poder que moldam a história e a identidade do Brasil.

PALAVRAS-CHAVE: .

COORDENADORES:

Cecil Jeanine Albert Zinani (UCS)
Guilherme Barp (UFRGS)

RESUMO: A imprensa de mulheres na América Latina desenvolveu-se com mais expressão no século XIX, a partir de um grupo feminino privilegiado, que teve acesso à educação, o qual propugnou em defender uma série de direitos, historicamente, negados às figuras femininas, tais como ao ensino qualificado, à propriedade, ao exercício de uma profissão, entre outros. A imprensa do "belo sexo" — como era frequentemente chamada no passado — tem sido dividida em duas modalidades por estudiosos: feminina e feminista. Ambas voltam-se às mulheres como público consumidor; ao passo que a primeira dedica-se em perpetuar a tradição da dona de casa envolvida com o bem-estar do marido, a economia doméstica, a criação dos filhos e a leitura da alguns poemas ou folhetins, apenas a segunda é marcada pela defesa de causas emancipatórias, divulgando, além disso, páginas literárias escritas por mulheres, muitas vezes, negligenciadas por outros órgãos da imprensa ou vistas com condescendência, uma vez que se tratava de produção de “senhoras”. Numa retrospectiva histórica, no caso do Brasil, o primeiro periódico orientado às mulheres foi O Espelho Diamantino, no Rio de Janeiro, iniciado em 1827 e dirigido pelo jornalista francês radicado no Brasil Pierre Plancher. No entanto, os pioneiros a terem uma mulher na direção foram o Belona Irada contra os Sectários de Momo e o Idade de Ouro, ambos de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, em 1833, instituídos pela professora e poeta Maria Josefa Barreto. Seguindo esses, diversos jornais e revistas foram fundados por mulheres, como alguns marcantes, tais quais: o Jornal das Senhoras, por Juana Paula Manso de Noronha; o Corimbo, de Revocata Heloísa de Melo e Julieta de Melo Monteiro; A Família, de Josefina Álvares de Azevedo; A Mensageira, por Presciliana Duarte de Almeida; e O Escrínio, de Andradina América Andrade de Oliveira. Merecem destaque por sua longevidade o Corimbo, que foi publicado durante 60 anos, e O Escrínio, o qual perdurou por 12 anos. Nos séculos XX e XXI, a imprensa direcionada para o público feminino expandiu-se notavelmente, buscando atualizações em consonância com os interesses de suas consumidoras. Nas páginas desses veículos, a literatura frequentemente esteve presente. Assim, este simpósio acolhe investigações que focalizam a conexão entre literatura, imprensa e gênero, num sentido amplo, dos mais diversos períodos históricos, dos primórdios à contemporaneidade, na América Latina ou envolvendo mulheres latino-americanas. Ademais, considera-se, aqui, "literatura" num sentido amplo, contemplando tanto ficção como não ficção. Não se restringe a pesquisas sobre imprensa feita por mulheres, valorizando, também, pesquisas sobre colaborações de autoras na imprensa geral, como Júlia Lopes de Almeida em O País ou Clarice Lispector em A Noite, ou representações femininas feitas por homens na imprensa. São bem-vindas as mais diversas perspectivas teóricas — não somente da área de Literatura, mas da Ciência da Comunicação, da Linguística, da História, da Sociologia, do Direito, da Psicologia, das Artes, dentre outras, — e metodologias, considerando-se, igualmente, a transdisciplinaridade.

PALAVRAS-CHAVE: literatura; imprensa; mulher

COORDENADORES:

Francisca Liciany Rodrigues de Sousa (UVA)
Ayrla Victória Gomes da Silva (UFPI)

RESUMO: A partir da segunda metade do século passado, as obras literárias voltam-se com mais afinco para seu próprio processo de criação e para o pacto ficcional empreendido a partir da linguagem. A chamada “metaficção” - ou ficção sobre ficção, como definiu Linda Hutcheon (1980) - oferece novos modos de ler e de se relacionar com a obra literária, contribuindo para contestação das ideias sacralizadas e dogmatizadas sobre a literatura e estabelecendo uma nova relação entre o real, a ficção e a linguagem. Nessa mesma esteira, a autoficção se encaixa como possibilidade de tomar essa discussão a partir da figura do autor, visto que, como afirma Luciene Azevedo (2013), “inscreve-se na fenda aberta pela constatação de que todo contar de si, seja reminiscência ou não, é ficcionalizante [...]”. Vale lembrar que o termo “autoficção” foi elaborado por Serge Doubrovsky em resposta às análises de Philippe Lejeune (2008) sobre o pacto autobiográfico e a relação entre o “eu” que escreve na ficção e o “eu” presente nas autobiografias. Isso estabelece um elo entre a autoficção e as escritas de si enquanto exercícios de contestação e reflexão dos limites do literário a partir da teoria, da crítica e do cânone. As escritas de si são caracterizadas pela proximidade entre o “eu” que escreve e aquele que se manifesta no texto. Estão sob essa égide as autobiografias, diários, cartas, memórias, entre outros. Por um tempo, alguns desses gêneros foram considerados menores e associados à escrita das mulheres, visto que tratavam da vida íntima e de assuntos cotidianos. Como bem afirmou Virgínia Woolf (2014), na história da literatura, o direito de escrever, publicar e a atividade intelectual foram, por muito tempo, restrito aos homens, cabendo às mulheres encontrar formas alternativas de expressão. Muitas fizeram dos diários e das cartas veículos para suas expressões não apenas pessoais como também artísticas. Por isso, como afirma Michelle Perrot (2008), é tão comum que os registros históricos das produções escritas por mulheres, especialmente antes do século XIX, estejam, em sua maioria, ligados a uma produção mais íntima ou privada. Já Brigitte Diaz (2016), ao analisar o gênero epistolar, dedica um capítulo à relação entre a identidade feminina e a escritas de cartas, a partir do caso de George Sand e suas leitoras, mulheres que não publicavam, mas viam no exercício epistolar um modo de dar vazão a seus anseios literários. Ainda no início do século XX, podemos encontrar essa relação no que Lygia Fagundes Telles denominou de “cadernos goiabada”, cadernos em que as mulheres casadas (impedidas de manter diários) escreviam, entre as contas da casa e as receitas culinárias, seus pensamentos e versos. Desse modo, é possível perceber que a história da escrita das mulheres, ao questionar os limites entre o público e o privado, o real e o ficcional, representa uma contestação ao sentido atribuído pela crítica literária ao que é considerado literatura e ao cânone estabelecido. A partir disso, este simpósio objetiva discutir as relações entre a metaficção, a autoficção e as escritas de si nas literaturas escritas por mulheres enquanto estratégias de reflexão sobre os limites da literatura e a contestação do cânone literário.

PALAVRAS-CHAVE: .

COORDENADORES:

Dinameire Oliveira Carneiro Rios (Universidade Federal do Tocantins)
Maria da Glória de Castro Azevedo (UFT)
Viviane Cristina Oliveira (UFT)

RESUMO: A representação da mulher na literatura passou por estereótipos do patriarcado que, por meio de arquétipos de fragilidade e idealização da figura feminina, construiu relações de opressão e sexismo que naturalizam violências de gênero e divisões sociais. Desta forma, ao ter a sua representação moldada pelo discurso masculino, a mulher não somente foi submetida a padrões, perfis superficiais e ditames de comportamentos, mas também destituída do direito de se autorrepresentar, de expor a sua subjetividade e experiências de vida e de se constituir enquanto sujeito participante da vida social. Assim, estas históricas representações estereotipadas, fruto da unitelaridade do então hegemônico discurso masculino, começam a ser desconstruídas quando as escritoras passam a produzir textos literários em que denunciam as históricas estruturas de poder da opressão e questionam os lugares ocupados pela mulher na sociedade e na organização patriarcalista familiar. Esse importante movimento é fruto do tardio reconhecimento da mulher como sujeito com capacidade de falar de si, tendo o seu discurso legitimado como social e culturalmente válido. Tal cenário viabilizou uma construção mais múltipla e crítica acerca do seu papel social e um deslindamento da violência simbólica e dos motivos relacionados ao seu apagamento ao longo da história e da ausência discursiva que lhe foi imposta ao longo dos séculos. Torna-se possível, então, através da literatura, espaço privilegiado da representação e da articulação de valores culturais, acompanhar as transformações pelas quais a imagem da mulher passou ao longo dos séculos. É importante refletir, inclusive, como essas mudanças geraram uma reorganização dentro do próprio campo literário, no que diz respeito a noções sobre “cânone”, “tradição” e “gênio”, por exemplo, e nos próprios rumos da história, ao desestabilizar versões construídas como únicas e impassíveis de questionamentos. Nesse sentido, o presente Simpósio se propõe a discutir as relações de gênero/feminismo, história e espaço no texto literário de autoria feminina, produzido em língua portuguesa ou não, e como essas três linhas de crítica permitem estudar o papel da mulher na literatura, as rupturas estabelecidas por elas, seja no campo da voz narrativa, no imaginário ficcional e espaços de enfrentamento político-cultural, nas relações entre sexismo e opressão masculina sobre o corpo feminino e ou na metaficção por meio de narrativas entremeadas entre história, memória e criação literária. Assim, serão bem-vindos a este grupo Simpósio trabalhos que se dediquem não somente à produção ficcional de mulheres, como também ao trabalho de teoria e crítica literária desenvolvido por vozes femininas ao longo do tempo, dentro e fora do âmbito das universidades. Desta forma, pelas vias da ficção e da teoria, por vezes ambas se encontrando, a exemplo da escrevivência de Conceição Evaristo, esperamos tecer encontros e diálogos sobre a autoria feminina em diferentes tempos e lugares.

PALAVRAS-CHAVE: Literatura; Gênero; História

COORDENADORES:

Aline Coelho da Silva (Universidade Federal de Pelotas)
Jessé Carvalho Lebkuchen (Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul)

RESUMO: As literaturas latino-americanas de línguas espanhola e portuguesa apresentam múltiplas perspectivas, seja em um viés histórico ou contemporâneo, visto a diversidade social, política, histórica, cultural e identitária presentes nesses territórios. A riqueza dos objetos artístico-literários, em quantidade e relevância, representa algumas dificuldades teóricas (ou mesmo impossibilidades), ainda mais frequentes na modernidade. Quais recortes metodológicos realizar quando pensamos em literaturas latino-americanas? Que teorias refletem ou dialogam com as diversas realidades presentes nesses textos? Como as identidades descentralizadas, como em escritas realizadas por mulheres, pessoas LGBTQIA +, negras, indígenas, entre outras, são tratadas historicamente e principalmente no século XXI? O século XXI traz novos aportes e chaves de leitura que alimentam o sistema e o fazer literário do nosso continente. Isso pode ser visto nos já solidificados estudos de Regina Dalcastagné (2016), que analisa quantitativa e qualitativamente quem produz e quem é representado nos romances brasileiros contemporâneos. Ao considerar o recorte de sua pesquisa, obras publicadas nas principais editoras do mercado brasileiro entre 1990 e 2004, percebe-se que a amostra literária é, de forma predominante, produzida por homens, heterossexuais, brancos e de origem social média-alta. Isso também acaba refletindo em seus narradores e personagens protagonistas. Nessa perspectiva, Beatriz Rezende (2008) apresenta três dominantes nesta poética contemporânea: o tempo presente, o trágico e a violência, ainda que saibamos da diversidade de rumos e perspectivas em nossas literaturas. Nestas expressões, observamos, se ampliam as brechas do cânone, nas vozes periféricas que rompem com o panorama branco, patriarcal e heteronormativo que integrou históricamente nossa historiografia. Ángel Rama (2008) aponta que na contemporaneidade há uma tensão entre tradição e modernidade, no que concerne ao campo literário, abrindo espaço a novas narrativas, que acompanham os câmbios sociais latinoamericanos. Como já observava Ana Pizarro (2014), a história da literatura latino-americana é múltipla e diversa e, sobretudo, assim como nosso continente, é um processo. Este simpósio busca propostas que investiguem o estado atual das literaturas brasileiras e latino-americanas, de modo geral, como expressão de realidades sociais, históricas e políticas do continente.

PALAVRAS-CHAVE: literaturas latino-americanas; identidades; contemporaneidades

COORDENADORES:

Daniel Prestes da Silva (SEDUC-PA)
Jeniffer Yara Jesus da Silva (UEAP - AP)

RESUMO: Nos processos de construção de uma história da literatura e da crítica literária, as seleções e escolhas realizadas estabeleceram a valorização de nomes, biografias, títulos e histórias para os leitores conhecerem e apreciarem enquanto produções legitimadas por figuras letradas e especializadas na área, no entanto, a partir de pesquisas em periódicos e acervos históricos, outros nomes e títulos surgem aos pesquisadores que redescobrem uma história literária nacional, de autores e obras esquecidas ou marginalizadas, de críticas e prescrições sobre as práticas de leitura vigentes à época, e de narrativas veiculadas amplamente pelos jornais e bibliotecas brasileiras. Nesse sentido, a história da crítica literária permite compreender os modos como os textos eram recepcionados por leitores especializados, os críticos, no entanto, não possibilita saber como os textos foram recepcionados pelas figuras não-especializadas, ou em períodos anteriores ao século XX, quando figuras renomadas, de prestígio social e político, também emitiram juízos de valor a respeito de obras publicadas à época, assim como não abarca os posicionamentos e critérios de valor expostos pelo público leitor mais amplo atual, do século XXI, ao descartar determinados meios de veiculação de opiniões críticas a respeito de obras e autores literários. O que era/é lido? Como era/é lido? Como eram/são selecionadas as obras pretendidas para leitura? Preocupações como essas se inserem no escopo investigativo da História Cultural, também denominada História do Livro e da Leitura, e serão objetos de análise para os trabalhos inseridos neste simpósio, assim como também nos interessa investigar os sujeitos que emitem determinados critérios valorativos aos livros lidos, a fim de analisar a relação de indivíduos contextualizados socialmente, política e ideologia inclusos, com as avaliações emitidas a respeito dos textos literários, abrangendo, também, o campo da Sociologia da Leitura nesta proposta. Este simpósio, portanto, abarcará trabalhos que investiguem a recepção de obras literárias a partir dos critérios avaliativos de um público leitor, especializado ou não, situando-o historicamente e socialmente. Tais pareceres podem ter sido veiculados em diferentes suportes: jornais, revistas especializadas ou não, redes sociais, entre outros. Assim, pretende-se alargar os estudos de recepção de obras e autores literários, no sentido de responder à seguinte pergunta: entre o passado e o presente, o que a crítica à literatura nos revela a partir dos seus leitores?

PALAVRAS-CHAVE: Critérios avaliativos. Recepção literária. História do Livro e da Leitura. Crítica literária. Sociologia da Leitura